Não se pode responsabilizar uma emoção

“Não se pode responsabilizar uma emoção por uma ação ou inação. “Fiz porque estava com raiva! Não fui porque tinha medo!” A alma é inocente, porém totalmente engajada e interessada na experiência com a vida, todo encontro a convoca.

O trabalho do indivíduo é, por mérito da sua disponibilidade e cuidado, atravessar as pontes que as emoções representam com integridade. O que nos impede não é realmente a emoção, mas um condicionamento ou fixação imposto a ela.

O trabalho da liberdade mora em chegar ao amor através dos caminhos emocionais que a alma apresenta. Se a sua alma está impedida de fluir através de você, de apresentar você ao outro, você corre o sério risco de um dia não encontrar paz e descanso na vida que você está criando.

Muitas vezes, por causa de um alívio mais imediato, nos afastamos de nossos reais desafios.”

Mauro Bühler

Quando nos tornamos íntimos desta fonte interna de vida

“Quando nos tornamos íntimos desta fonte interna de vida que se dedica a nós e nos alimenta a cada instante com tanto amor e morte, o choro se torna a expressão da gratidão, o riso seu reconhecimento.

O louco do espírito, ao contrário do louco do ego, não se perde, ele se encontra, num espaço onde a experiência da proximidade com as forças internas, nossas emoções, e até mesmo nossas memórias, faz ser insuportável se manter apartado.

O grande ego sofre, e assim se despe, aprende sobre a obediência a própria alma, um princípio de saúde. Tudo quer participar de cada escolha nossa. O trabalho do ego é realizar a própria alma.

O verdadeiro poder é o contato com a própria interioridade, e sua prática é a oferta deste tesouro de si, primeiramente a quem se encontra mais próximo e, seguindo um caminho natural, ao mais distante e diferente. E quando a alma é grande e o ego pequeno, reverência ao invés de dominação, reconhecemos o templo em casa. Lá estão meu pai e o seu, minha mãe e a sua e Francisco.

Só poderemos viver todos juntos em paz quando morarmos equilibradamente em nós mesmos.

Religiosidade? Ou terapia… Conhecimento de si e libertação do outro!”

Mauro Bühler

Tudo é esperado de nós no tempo que nos é dado

“Tudo é esperado de nós no tempo que nos é dado entre a gestação em nossa mãe e aquele que nos tornamos quando enfim somos deitados na terra. De uma mãe partimos e a outra retornamos.

Em sua origem e destino, a vida é materna, essencialmente nos acolhendo. Reconhecendo a maternidade, fazemos a vida transbordar para além do contorno de uma pessoa, através de nossas relações, acolhendo e nutrindo.

Celebrando a mãe que nos abriu este grande mundo, um merecido descanso! Filhos maduros reverenciam e têm gratidão.

Assumindo a boa mãe dentro de nós, nos engajamos na capacidade de incluir libertando – o fim da luta consigo e com o outro.

A Grande Mãe virá quando toda a família estiver reunida, ao nos reconhecermos como irmãos.

Toda celebração nos lembra que a vida é sagrada. Nos banhamos próximo à fonte e recuperamos nossa jovialidade – como uma força da alma, está sempre propondo novo nascimento.”

Mauro Bühler

Quando nos silenciamos

“Quando nos silenciamos, o que nos ocupa internamente? Este conteúdo interno que encontramos no silêncio indica o caminho do trabalho de consciência para um silêncio mais profundo.

Quando falamos de silêncio, nos empenhamos no silenciar daquilo que nos retira da presença, da intimidade com nossa alma e do convívio com os outros. No silêncio conhecemos a medida da saúde e nos entregamos engajados na vida, em um caminho de paz.

O silêncio, longe de ser uma ausência, é a grande permissão para o espírito que se encontra em tudo e em todos. O desafio real da prática espiritual é reconhecer o espírito em todas as coisas. A isto serve o silêncio.”

A grande diferença entre a dificuldade e o desafio

“A grande diferença entre a dificuldade e o desafio é onde mora e que papel cumpre a responsabilidade. No cuidado consigo e com o outro ou nas desculpas e justificativas.
Antes, durante e depois? Ou só depois?

Tomar as próprias dificuldades enquanto desafios é se engajar com consciência no desenvolvimento das próprias capacidades e bons limites.

Quem não compromete o cuidado com a dificuldade, a tomando enquanto um desafio impõe às relações o preço de participar de sua própria desorganização.
Com o tempo o amor é consumido pelas desculpas e a troca pode se empobrecer na promessa de um potencial que não se realiza.

Muito sofrimento surge da falta de compromisso consigo e da passividade frente a assumir e portar as próprias e reais possibilidades.
Quando amorosamente assumida a dificuldade se desenvolve e revela tesouros da sensibilidade. Conjuga em torno de si uma bela sabedoria, é admirável.
Quando escondida ou esquecida empurra a pessoa para a fixação de causar e repercutir nos outros aquilo que conjuga seu próprio sofrimento.
Quanto será necessário perder para se acordar para a responsabilidade? Oportunidades, relações, saúde?
Adoraria acreditar que não é assim. Mas existe a oportunidade perdida, tanto que sentimos culpa, amargura e arrependimento. Sintomas de traições para consigo mesmo e para com os compromissos com os outros.

Quando o amor não é um trabalho e sim uma expectativa de eterno acolhimento sabemos que adentramos nos reinos da infância e das carências afetivas.

As vezes o remédio é amargo.

Não! Hoje eu não poderei mais te desculpar. Pois igualmente tenho direito de me colocar frente as minhas experiências.

O amor amadurece através do exercício da responsabilidade e no conhecimento de si através do diálogo com os outros.
O caminho para a sabedoria começa com o reconhecimento da fragilidade e da condição falível que nos torna cuidadosos.”

Mauro Bühler

O amor de nossos pais naturalmente gera uma criança em nós, tudo começa aí.

“O amor de nossos pais naturalmente gera uma criança em nós, tudo começa aí.
Nosso amor por nossos pais, amadurecido, gera uma gratidão pela vida. Assim nos tornamos verdadeiramente adultos capazes de amar.

Esta gratidão nos abre para um amor que pode vir de outra pessoa, de uma nova família. Assim a vida cresce naturalmente.
Quando permanecemos a criança de nossos pais, acabamos por transformar o amor em luta.

Muitas vezes, sem perceber, reencenamos nossa infância, pois assim nos reconhecemos. Neste amor não há espaço para uma outra pessoa, e nesta luta muitas pessoas se machucam.”

Mauro Bühler

A cordialidade pode se tornar estranhamente ameaçadora

“A cordialidade pode se tornar estranhamente ameaçadora para a pessoa que se esconde por detrás da mesma e constante face educada. Ela é um compromisso com o trabalho amoroso frente a realidade sensível do encontro, por isso não repercute automaticamente a imagem ou o reconhecimento daquilo que significa ser aceito, nos coloca em seu exercício. A cordialidade é o meio por onde se insere o processo de contato e integração psíquica.

Quando a educação se transforma num refúgio para o esquecimento e a não disponibilidade para o risco de se relacionar, ela aliena a personalidade de sua realidade interna e por consequência de sua renovação.

Enquanto a cordialidade se empenha em acolher a alma em toda a sua vastidão, a educação pode tão somente reeditar as permissões que nos apresentam sem nos representar.

O educado pode ser perfeitamente aceito sem sequer se aceitar, ser amado sem sequer se amar. (…)”

Mauro Bühler

Dê boas vindas às suas emoções

“As emoções abrem um maior contato com a interioridade, esteja atento para não se perder nas abstrações do seu intelecto.

Por vezes sentimos a presença de uma determinada emoção, mas escolhemos não representá-la com a face que brota dela para nos adequarmos à expectativa do outro.

Quando você faz isso, se dissocia das emoções, diminui o contato com a sua alma e trai o movimento do espírito. Seguindo esse caminho, pode criar uma vida que não necessariamente representa a sua alma. Todos nós fazemos isso por medo. Nós exercemos um controle através do intelecto por medo de nos entregar às nossas emoções, pois sim, existem dor e sofrimento na vida humana.

Cada dimensão de nosso ser nos propõe uma experiência temporal. Os tempos do corpo, da mente e do intelecto são distintos. Uma boa consciência é o resultado de uma relação harmônica destas temporalidades, uma expressão autêntica de sua relação.

As emoções são nossas guias e professoras, a elas nos entregamos com respeito, pois todas servem à vida. Atento e honesto com as próprias emoções, seu intelecto é chamado a participar através da composição de representações e da realização de escolhas conscientes.”

O desconhecido em nossa interioridade é como uma nudez

“O desconhecido em nossa interioridade é como uma nudez, própria da condição humana, sempre nos convida a nos relacionar e a fazer as pazes com o desconhecido que habita no outro, lá fora e no futuro.

Nunca poderemos nos definir de forma conclusiva. Sempre inacabados, somos mais vastos do que podemos conhecer.

É frente ao desconhecido que a vida ganha um sentido, isso nos amedronta e ao mesmo tempo nos liberta.

Estamos todos, mesmo sem perceber, nus naquilo que vestimos. Às vezes, o mais óbvio se torna o mais esquecido, e o que nos representa pode nos afastar da sabedoria de sermos, em tudo o que assumimos, simplesmente livres, plenamente humanos.”

Mauro Bühler

Exacerbação da individualidade

“Existe uma mentira na exacerbação da individualidade, ela empodera o controle, e em sua construção nasce a ilusão. A ilusão é a semente do sofrimento, pois representa um tensionamento que não pode encontrar relaxamento nem na intimidade, nem nas relações. O descanso e a paz só são possíveis na revelação da verdade, ela em muitos sentidos é uma afirmação da natureza biológica em acordo com a psíquica e também com a simbólica.

Nosso tempo partilha da grande ilusão de que na exacerbação do controle se assegura a saúde, o sucesso e a felicidade. Isto é uma mentira! É incrível a quantidade de sofrimento causado pela ilusão, e o falso poder que o controle traz.

A solidão acompanhada, corpos lindamente violentados, a crescente incapacidade de suportar a si mesmo e lidar com as emoções, a construção da identidade através da publicidade, que nos esconde mais do que nos revela…

Estranhamente as pessoas que se esforçam tanto em serem diferentes se parecem cada vez mais….

Com o tempo o vício do controle danifica as relações, a psique, o corpo e a identidade. Constrói um mundo sem terra, afasta o espírito, torna o humano um mero objeto, pura matéria a ser moldada pelo desejo inconsciente e inconsequente.”

Mauro Bühler

O monstro e a deidade partilham de uma característica comum – uma vastidão de faces

“O monstro e a deidade partilham de uma característica comum – uma vastidão de faces.

Algumas pessoas aprenderam a se manter lutando para se sentirem poderosas. O poder que vem da luta necessita das defesas para se legitimar. Você quer que uma defesa te represente e regule as suas relações?

A manutenção da luta exaure a nossa alma. Esse cenário arcaico da formação de nossa consciência como resposta ao medo e necessidade de nossa reunião estabeleceu uma relação original intitulada como escolha do bom sobre o mau – o bom assumido como o que nos distingue da natureza e o mau como o que nos faz regredir ao animal.

Precisamos agora, nessa nova era de proximidade, ganhar uma dimensão de maior responsabilidade. Nosso bom parece só se sustentar numa relação impossível que camufla nossa violência, denigre a natureza e alimenta a exclusão. O mau, tão afastado e combatido, se mostra na nudez de nossa intimidade, reside em nossos tempos também na escolha de um estilo de vida impossível.

A luta é a escolha dos que têm medo do real desafio do ser humano – desenvolver o amor. Este amor, hoje banalizado, empobrecido de seu poder, não é uma intitulação ingênua e infantil, é um imenso trabalho de inclusão.

O monstro e a deidade partilham de uma característica comum – uma vastidão de faces reunidas, uma representando a paz, a outra lutando. Quem luta sempre perde a oportunidade de amar.” Mauro Bühler

Elogio à grandiosidade do homem e seu legado de destruição.

Elogio à grandiosidade do homem e seu legado de destruição.

O homem de ontem foi o arauto de nosso declínio, em sua época ninguém o previu, porém seus próprios feitos o preveniram. Afinal, quem poderia admitir que, em dia tão banal e lugar tão comum, algo tão grave e sério poderia ocorrer? Um dia nos alertaram: deve-se tomar cuidado com tudo que acontece sob a influência e auspício de mercúrio.

Eram tão óbvios seus descuidos que foram as crianças que primeiramente os observaram, pois eram, em seu tempo, simples e pequenas desobediências, como são as da própria criança.

O poderoso homem não observa as pequenas coisas, só tem olhos para a imensidão que espelha sua própria ambição. Vislumbra o lugar de onde o próprio criador declarou seu recolhimento. Justamente ele que, pelo mérito de ter sido tão disponível, teria todo direito à autoria de destruição de sua própria obra e criação. Presenteou ao homem, e sua filha, tal esdrúxulo legado. O de serem misericordiosos. Há quem admire tal feito. Percebo aí a estranha grandiosidade deste varão, seu maior presente foi e continua sendo uma sentida forma de ausência. Esta é preenchida, era após era, pelo desprezo do grande por tudo o que é pequeno. Pelo desprezo do grande por tudo aquilo que o compõe.

O silêncio insiste em perguntar ao homem grande e lhe faz o pedido por uma canção: que te falta? São muitos os meus desejos. O que te satisfaz? Nada menos que tudo! A quem ofereces seus dons? Ao sucesso de minha empreitada. A que serve sua empreitada? Ao acréscimo de meu próprio poder.

O declínio é tão óbvio para os pequenos, para os que atentam ao solo e acompanham seu movimento. Basta ver! Vocês por acaso não viram? Aconteceu ontem aos olhos de todos!
O homem grande desceu a ladeira olhando para cima! Orgulhosamente está se aproximando do buraco que se encontra logo ali adiante. Este é a morada de tudo o que ele não está disposto a admitir e evita, visita-o tão somente em pesadelos e nas pálidas memórias do tempo em que adoeceu. Um dia ele quase morreu. Pelo buraco transitam hoje apenas as imundices, nele se deposita somente, por falta do ralo, a água da chuva. Por isso, não atenta para sua realidade e convite.

O grande homem simplesmente não verga. Ele é estrela, decresce na cadência de inúmeras desatenções, ele se torna decadente. Disfarça, a cada passo, seu desleixo, suas mãos denunciam o esforço de seu disfarce.

A todo homem se credita uma grande mulher, é verdade. São todos que o admiram, que se enganam com seu autoengano, numerosos se tornaram os seios usurpados para não abandonar os de sua própria mãe, ao qual o imediato preenchimento sua passividade reluta em afastar. Porém, fartos ele deixou a todos que nele confiaram e com ele se emaranharam.

O grande homem está também na atitude da poderosa mulher. Muitos em nosso entorno apostam e jogam a sorte do grande homem, acreditam em sua promessa e se convencem de seus encantos, em benesses milagrosas, em tudo que vem a ser sem esforço. Os bichos, porém, ainda farejam seu veneno e evitam seu encontro.

O grande homem de hoje encena nossa destruição. Sua música não pode ser ouvida, pois sua canção não foi nem mesmo sussurrada. Bastaria uma escuta para salvá-lo de sua tenebrosa repetição.
O tempo de uma vida, e inúmeras oportunidades teve para criá-la.
O silêncio pode ser terrível para quem deve à terra uma canção.

Estou absolutamente encantado em reconhecer como os movimentos espontâneos do corpo…

Estou absolutamente encantado em reconhecer como os movimentos espontâneos do corpo desperto repercutem um senso de integridade. Eles reverenciam nossa própria origem afetiva individual e mais profundamente a condição humana, nosso vínculo indissociável com a grande natureza. Estes movimentos declaram nossa inocência frente a presença em vida, que se disponibiliza através de tudo que nos tornamos. A sensibilidade espacializa convites de reunião de um com o outro em contornos cada vez mais inclusivos.

Quando a personalidade se silencia nas relações íntimas onde age na inibição e na interdição violenta e medrosa da vitalidade, e passa a cumprir seu papel de justa regulação da disponibilidade, nasce a beleza de um indivíduo propositor de paz, porque com simplicidade a porta.

Reconheci como um desafio em minha prática terapêutica que é necessário restituir o papel de centralidade do corpo na organização da vitalidade. Existe um estado de ser sensível anterior a todo e qualquer atributo de identidade. Devemos reconhecer e valorizar a vida em suas múltiplas qualidades, em seu lugar íntimo, antes de percorrer qualquer distância. Percebi que nos encontramos indevidamente encantados e emaranhados com nossa própria autoimagem, em suas referências projetivas de desejo. Chegamos até a confundi-la com o próprio corpo, a impondo sobre ele. Este pobrezinho se encontra, muitas vezes, esquecido e violentado por detrás de formas aparentemente belas.

Estimular o saber de si sem a perspectiva de um efetivo compromisso com a mudança é contribuir…

Estimular o saber de si sem a perspectiva de um efetivo compromisso com a mudança é contribuir para a banalização da vida humana. Esta acomete a ricos e a pobres igualmente, não poupa ninguém. É uma comodidade que nos anestesia e entorpece os sentidos. Captura e corrompe a tudo.

A vida se encontra em um estado constante de mudança, de vir a ser. Nosso psiquismo é a mina da preciosa humanidade, uma fonte transbordante. Este não se mobiliza só ou tão somente no que nos apraz, agrada ou gostamos.

O homem que não se compromete com seu exercício de consciência diário (pois diariamente vivemos e morremos) será inevitavelmente incomodado e pressionado por tudo aquilo que cresceu à sua volta e dentro de si sem sua participação consciente. Tudo apontará aos terríveis fracassos advindos não de sua ousadia criativa e da coragem (estes são louváveis e conduzem ao descanso), mas àqueles da passividade e do discurso do medo. Ocupações de si para consigo mesmo, em um mundo traduzido em imagens e fundamentado em uma injustificada autoimportância.

Os mais medrosos, quando confrontados, se refugiam ainda mais, postergando o inevitável vazio que se estabelecerá por sorte um dia.

O esquecimento de si é uma afronta à dádiva da vida e tem seu preço cobrado por ninguém mais do que ele… ele mesmo! Deus?

Não, o próprio corpo. O reconhecimento do valor da vida está ao alcance de todos. É um dom de todo homem, por meio dele nos distinguimos e realizamos, porém podemos não exercê-lo e nem reverenciá-lo em seu meio natural.

Esta tenebrosa individualidade gestada no ocidente, este deus tão particular, se problematiza e vive ora as fantasias, ora os tormentos de sua eterna infância.

Para muitos de nós o mundo se tornou tão banal quanto um cardápio. E a liberdade é assumida como um poder de trocar ou de substituir fundamentalmente uma mesma coisa, a identidade, disfarçando-a de outra…

Participa da noção de paraíso a poderosa memória de um estado de ser …

Participa da noção de paraíso a poderosa memória de um estado de ser onde era ausente, ou muito pequeno, o desafio que representa para nós o exercício relacional com a diferença. Chamamos esta fase de infância.

Muitos o buscam, ou o perpetuam por meio de artifícios. Ausências pela inconsequência, euforias e anestesias frente ao grande desafio que é viver no mundo e ser, da melhor forma possível, um entre outros.
Sartre bem disse: “o inferno são os outros”.

Os que buscam no paraíso alguma imagem de perfeição terminam por destituir a terra de sua diversidade original, aniquilam a todos e a si próprios na brincadeira de Deus que não parte de uma tela em branco.

Vejo na imagem do paraíso a grandiosidade do exercício de nossa inocência, dando significado a nossa concordância com o corpo e um sentido revolucionário em termos de consciência para a própria condição humana. Esta que nos dá suporte e se disponibiliza à nossa destinação, sendo assumida em nosso processo de diferenciação como o lugar legítimo para a nossa criação.