Estar nas cercanias do lugar mais sagrado, como é possível?

Estar nas cercanias do lugar mais sagrado, como é possível? Na tolice da invenção do não que possibilitou a criação de todas as coisas, em sua generosidade capaz de fazer brotar o desejo pelo outro.
Na natureza é tão simples.
Você que foi me convida a ser,
você que é me convida a ser,
você que será me convida a ser, 
ser o quê? Aí novamente a tolice na pergunta que parece certa, pois não tolera a falta imposta pelo não, sua espera.
Se a pergunta for o presentear da própria resposta, este o quê que virá pode ser o não que presentifica todas as coisas que não bastam em si mesmas.

O que cresce em liberdade caminha ao lado.

Aquele que se encontra ao lado partilha de nosso destino sem ser seu intermediário.
Participa, muitas vezes, de nossa história sem ocupá-la.
Ao nosso lado convidamos a viver aqueles que reconhecemos, respeitamos e amamos em liberdade.
O amor que liberta reconhece que estamos todos sujeitos às mesmas condições essenciais da vida, e que cada um, à sua maneira, vive o melhor que pode. O que cresce em liberdade caminha ao lado.

A transcendência real é em direção a terra

A transcendência real é em direção a terra. É um mergulho na vida. A abertura do coração acontece quando a gente assume o compromisso de se encontrar neste lugar e cultivar nossas relações. As relações se aprofundam aqui, as emoções ganham vida, tanto a sua tristeza quanto a sua alegria te guiam à profundidade. A alma é como um jardim ou pomar, composto por histórias, sonhos e emoções que convidam e alimentam as nossas relações.

O caos é repleto de pequenos pedacinhos

O caos é repleto de pequenos pedacinhos. Todos sabem e declaram que são parte de algo grandioso. Todos nos seduzem com uma determinada promessa de grandeza, uma forma de organização em algum nível de reconhecimento individual, e, por consequência, de tudo no mundo. Aquele da pequena parte que supõe que tudo deve seguir e se submeter à sua própria determinação.

Na verdade, se trata de uma forma velada de ameaça. Somos reféns da própria fonte da vitalidade. Sua falta será um inegável buraco neste intrincado jogo de poder.

“Me encaixe ou sinta a minha ausência”.

É! A ausência pode ser tão sentida quanto a presença.

Será o vazio a pura potência em desobediência ou a desobediência à potência?

A angústia é também aquilo que sentimos quando estamos encaixando as pequenas partes de um quebra-cabeça com a imagem de nosso próprio rosto, porém implicado por toda pessoa que encontramos.

Quando nos doamos inteiramente ao momento, presenciamos o espírito.

Quando nos doamos inteiramente ao momento, presenciamos o espírito. Ele se encontra aqui e agora! No peso de nossa presença podemos senti-lo e tocá-lo.

O medo nos distancia do inevitável acontecimento da realização consciente de que o espírito habita este mundo e não outro. Às vezes, até mesmo Deus é tomado como uma proposta de ausência num estranho esvaziamento de nossa realidade essencial de sermos um grande nó de relações.

O verdadeiro desafio da espiritualidade é presença e compromisso com a vida humana. A prática espiritual deve ser um ato de respeito à vida, algo que possamos viver no nosso cotidiano e relações, e não uma imagem distante e pálida que nos violenta através de um senso de sermos especiais ou outra coisa que não humanos, nos levando a um isolamento doloroso ou encantado.

O espírito não é só uma imagem engendrada pelo ego, é mais essencialmente seu espelho enquanto senso de realidade e compromisso de presença, uma sutil diferença com consequências bastante distintas.

É hora da maturidade ao assumirmos o espírito como uma força natural e não sobrenatural. A natureza é simplesmente mais vasta! Fazemos isso desenvolvendo permissões cada vez maiores de disponibilidade aos componentes de nossa interioridade e de contato com o outro.

É necessário um aguçado compromisso com a vida à nossa volta. Isto naturalmente nos reúne e eleva. Se você se sente especial através de algo, inclusive numa prática espiritual, você a transformou em um clube para a sua vaidade, abandone-a!

Ninguém é especial, somos únicos, e só o somos porque podemos reconhecer o mesmo nos outros. O elevado do espírito se chama humildade, sua distância habita a coragem de propor sentidos integrados.”

Mauro Bühler

Não confunda consciência com conhecimento

A consciência é um delinear de presença
Representa o engajamento do Ego com a sua interioridade, desenvolvendo a capacidade de fazer escolhas sempre a partir de um lugar mais profundo – um lugar de maior representatividade da própria alma. Na Prática Aletheia, percebemos consciência como um lugar de afeto, de habitação.

É fácil confundir a busca de consciência com a busca de conhecimento, pois somos educados a valorizar o conhecimento como principal meio de acesso e acionamento da realidade, por representar um ponto de encontro comum e um mecanismo seguro. A busca por informações e o entendimento, com certeza, auxiliam a nossa vida. Porém, para a realização do processo de desenvolvimento pessoal, o conhecimento é bem-vindo como fruto de uma rica experiência própria. Ele será produzido por você.

Buscamos no Aletheia o conhecimento de si, desenvolvendo a relação do ego com a própria alma de forma que ela se torne uma amiga e professora. O que nos empenhamos em entender aqui são as tensões que compõem a nossa interioridade. Partilhamos de uma humanidade comum, mas por sermos distintos, representamos relações únicas que não podem ser formuladas ou replicadas sem representar uma violência. Buscamos uma expressão livre da alma sem a necessidade de regular uma nova adaptação, esta se dá naturalmente nos desafios e nas escolhas de cada um nas próprias relações. Você se conhecerá através da prática, e isto requer tempo. Consciência é, principalmente, para nós, a capacidade de agir em acordo com o que se aprende.

A consciência, portanto, é sempre um elo da interioridade com o mundo externo, no sentido de compor uma habitação, uma morada. E essa relação original, quando harmônica, convida a saúde e significa realização. A prática Aletheia visa restabelecer o equilíbrio deste movimento de expressão e criação da própria vida em acordo com uma medida que brota da relação com o espírito.

Consciência é um delinear de presença, diferente para cada pessoa.
Mauro Bühler

Não se pode responsabilizar uma emoção

“Não se pode responsabilizar uma emoção por uma ação ou inação. “Fiz porque estava com raiva! Não fui porque tinha medo!” A alma é inocente, porém totalmente engajada e interessada na experiência com a vida, todo encontro a convoca.

O trabalho do indivíduo é, por mérito da sua disponibilidade e cuidado, atravessar as pontes que as emoções representam com integridade. O que nos impede não é realmente a emoção, mas um condicionamento ou fixação imposto a ela.

O trabalho da liberdade mora em chegar ao amor através dos caminhos emocionais que a alma apresenta. Se a sua alma está impedida de fluir através de você, de apresentar você ao outro, você corre o sério risco de um dia não encontrar paz e descanso na vida que você está criando.

Muitas vezes, por causa de um alívio mais imediato, nos afastamos de nossos reais desafios.”

Mauro Bühler

Quando nos tornamos íntimos desta fonte interna de vida

“Quando nos tornamos íntimos desta fonte interna de vida que se dedica a nós e nos alimenta a cada instante com tanto amor e morte, o choro se torna a expressão da gratidão, o riso seu reconhecimento.

O louco do espírito, ao contrário do louco do ego, não se perde, ele se encontra, num espaço onde a experiência da proximidade com as forças internas, nossas emoções, e até mesmo nossas memórias, faz ser insuportável se manter apartado.

O grande ego sofre, e assim se despe, aprende sobre a obediência a própria alma, um princípio de saúde. Tudo quer participar de cada escolha nossa. O trabalho do ego é realizar a própria alma.

O verdadeiro poder é o contato com a própria interioridade, e sua prática é a oferta deste tesouro de si, primeiramente a quem se encontra mais próximo e, seguindo um caminho natural, ao mais distante e diferente. E quando a alma é grande e o ego pequeno, reverência ao invés de dominação, reconhecemos o templo em casa. Lá estão meu pai e o seu, minha mãe e a sua e Francisco.

Só poderemos viver todos juntos em paz quando morarmos equilibradamente em nós mesmos.

Religiosidade? Ou terapia… Conhecimento de si e libertação do outro!”

Mauro Bühler

Tudo é esperado de nós no tempo que nos é dado

“Tudo é esperado de nós no tempo que nos é dado entre a gestação em nossa mãe e aquele que nos tornamos quando enfim somos deitados na terra. De uma mãe partimos e a outra retornamos.

Em sua origem e destino, a vida é materna, essencialmente nos acolhendo. Reconhecendo a maternidade, fazemos a vida transbordar para além do contorno de uma pessoa, através de nossas relações, acolhendo e nutrindo.

Celebrando a mãe que nos abriu este grande mundo, um merecido descanso! Filhos maduros reverenciam e têm gratidão.

Assumindo a boa mãe dentro de nós, nos engajamos na capacidade de incluir libertando – o fim da luta consigo e com o outro.

A Grande Mãe virá quando toda a família estiver reunida, ao nos reconhecermos como irmãos.

Toda celebração nos lembra que a vida é sagrada. Nos banhamos próximo à fonte e recuperamos nossa jovialidade – como uma força da alma, está sempre propondo novo nascimento.”

Mauro Bühler

Quando nos silenciamos

“Quando nos silenciamos, o que nos ocupa internamente? Este conteúdo interno que encontramos no silêncio indica o caminho do trabalho de consciência para um silêncio mais profundo.

Quando falamos de silêncio, nos empenhamos no silenciar daquilo que nos retira da presença, da intimidade com nossa alma e do convívio com os outros. No silêncio conhecemos a medida da saúde e nos entregamos engajados na vida, em um caminho de paz.

O silêncio, longe de ser uma ausência, é a grande permissão para o espírito que se encontra em tudo e em todos. O desafio real da prática espiritual é reconhecer o espírito em todas as coisas. A isto serve o silêncio.”

A grande diferença entre a dificuldade e o desafio

“A grande diferença entre a dificuldade e o desafio é onde mora e que papel cumpre a responsabilidade. No cuidado consigo e com o outro ou nas desculpas e justificativas.
Antes, durante e depois? Ou só depois?

Tomar as próprias dificuldades enquanto desafios é se engajar com consciência no desenvolvimento das próprias capacidades e bons limites.

Quem não compromete o cuidado com a dificuldade, a tomando enquanto um desafio impõe às relações o preço de participar de sua própria desorganização.
Com o tempo o amor é consumido pelas desculpas e a troca pode se empobrecer na promessa de um potencial que não se realiza.

Muito sofrimento surge da falta de compromisso consigo e da passividade frente a assumir e portar as próprias e reais possibilidades.
Quando amorosamente assumida a dificuldade se desenvolve e revela tesouros da sensibilidade. Conjuga em torno de si uma bela sabedoria, é admirável.
Quando escondida ou esquecida empurra a pessoa para a fixação de causar e repercutir nos outros aquilo que conjuga seu próprio sofrimento.
Quanto será necessário perder para se acordar para a responsabilidade? Oportunidades, relações, saúde?
Adoraria acreditar que não é assim. Mas existe a oportunidade perdida, tanto que sentimos culpa, amargura e arrependimento. Sintomas de traições para consigo mesmo e para com os compromissos com os outros.

Quando o amor não é um trabalho e sim uma expectativa de eterno acolhimento sabemos que adentramos nos reinos da infância e das carências afetivas.

As vezes o remédio é amargo.

Não! Hoje eu não poderei mais te desculpar. Pois igualmente tenho direito de me colocar frente as minhas experiências.

O amor amadurece através do exercício da responsabilidade e no conhecimento de si através do diálogo com os outros.
O caminho para a sabedoria começa com o reconhecimento da fragilidade e da condição falível que nos torna cuidadosos.”

Mauro Bühler

O amor de nossos pais naturalmente gera uma criança em nós, tudo começa aí.

“O amor de nossos pais naturalmente gera uma criança em nós, tudo começa aí.
Nosso amor por nossos pais, amadurecido, gera uma gratidão pela vida. Assim nos tornamos verdadeiramente adultos capazes de amar.

Esta gratidão nos abre para um amor que pode vir de outra pessoa, de uma nova família. Assim a vida cresce naturalmente.
Quando permanecemos a criança de nossos pais, acabamos por transformar o amor em luta.

Muitas vezes, sem perceber, reencenamos nossa infância, pois assim nos reconhecemos. Neste amor não há espaço para uma outra pessoa, e nesta luta muitas pessoas se machucam.”

Mauro Bühler

A cordialidade pode se tornar estranhamente ameaçadora

“A cordialidade pode se tornar estranhamente ameaçadora para a pessoa que se esconde por detrás da mesma e constante face educada. Ela é um compromisso com o trabalho amoroso frente a realidade sensível do encontro, por isso não repercute automaticamente a imagem ou o reconhecimento daquilo que significa ser aceito, nos coloca em seu exercício. A cordialidade é o meio por onde se insere o processo de contato e integração psíquica.

Quando a educação se transforma num refúgio para o esquecimento e a não disponibilidade para o risco de se relacionar, ela aliena a personalidade de sua realidade interna e por consequência de sua renovação.

Enquanto a cordialidade se empenha em acolher a alma em toda a sua vastidão, a educação pode tão somente reeditar as permissões que nos apresentam sem nos representar.

O educado pode ser perfeitamente aceito sem sequer se aceitar, ser amado sem sequer se amar. (…)”

Mauro Bühler

Dê boas vindas às suas emoções

“As emoções abrem um maior contato com a interioridade, esteja atento para não se perder nas abstrações do seu intelecto.

Por vezes sentimos a presença de uma determinada emoção, mas escolhemos não representá-la com a face que brota dela para nos adequarmos à expectativa do outro.

Quando você faz isso, se dissocia das emoções, diminui o contato com a sua alma e trai o movimento do espírito. Seguindo esse caminho, pode criar uma vida que não necessariamente representa a sua alma. Todos nós fazemos isso por medo. Nós exercemos um controle através do intelecto por medo de nos entregar às nossas emoções, pois sim, existem dor e sofrimento na vida humana.

Cada dimensão de nosso ser nos propõe uma experiência temporal. Os tempos do corpo, da mente e do intelecto são distintos. Uma boa consciência é o resultado de uma relação harmônica destas temporalidades, uma expressão autêntica de sua relação.

As emoções são nossas guias e professoras, a elas nos entregamos com respeito, pois todas servem à vida. Atento e honesto com as próprias emoções, seu intelecto é chamado a participar através da composição de representações e da realização de escolhas conscientes.”

O desconhecido em nossa interioridade é como uma nudez

“O desconhecido em nossa interioridade é como uma nudez, própria da condição humana, sempre nos convida a nos relacionar e a fazer as pazes com o desconhecido que habita no outro, lá fora e no futuro.

Nunca poderemos nos definir de forma conclusiva. Sempre inacabados, somos mais vastos do que podemos conhecer.

É frente ao desconhecido que a vida ganha um sentido, isso nos amedronta e ao mesmo tempo nos liberta.

Estamos todos, mesmo sem perceber, nus naquilo que vestimos. Às vezes, o mais óbvio se torna o mais esquecido, e o que nos representa pode nos afastar da sabedoria de sermos, em tudo o que assumimos, simplesmente livres, plenamente humanos.”

Mauro Bühler