Encontro muitas pessoas se violentando, exercendo sobre si mesmas uma terrível forma de repressão.

Encontro muitas pessoas se violentando, exercendo sobre si mesmas uma terrível forma de repressão. Impondo sobre as próprias emoções e o corpo a ditadura de suas autoimagens. Movidas por carências profundas, projetam e mobilizam o mundo no pedido de alimento afetivo que se sacia realmente na relação amorosa consigo.

Perambulam pelas relações, na ilusão de que o poder de trocar, frente à dificuldade e à dor, uma coisa por outra, uma pessoa por outra, um trabalho por outro, uma religião por outra, significa ser livre.

Dedicam-se, muitas vezes, ao corpo enquanto mecanismo de sedução do outro e também o reduzem a mero objeto de desejo. Imersos em um cardápio tão vasto quanto este do mundo que nos encontramos, podem consumir muito tempo na experiência superficial do desejo que dá prazer, mas não gera satisfação.

Esta repressão da realidade íntima é parte de nosso esquecimento de si, onde normalizamos uma absurda violência, que com o tempo nos leva a estados insustentáveis.

Nossa cultura de consciência rejeita o valor da vulnerabilidade, a reconhece como fraqueza. Esta é um estado de transição natural da abertura, propício à mudança.

Em um mundo tão violento, o aberto se machuca bastante, tem poucas chances, e isto institui um ciclo vicioso que nos aliena.

Uma estética de impressões breves e imediatas, que rege a venda, impede o necessário investimento afetivo que consolida nosso senso de individualidade e casa, saudáveis e sãos.

O Método Aletheia

Quando nos tornamos íntimos desta fonte interna de vida

“Quando nos tornamos íntimos desta fonte interna de vida que se dedica a nós e nos alimenta a cada instante com tanto amor e morte, o choro se torna a expressão da gratidão, o riso seu reconhecimento.

O louco do espírito, ao contrário do louco do ego, não se perde, ele se encontra, num espaço onde a experiência da proximidade com as forças internas, nossas emoções, e até mesmo nossas memórias, faz ser insuportável se manter apartado.

O grande ego sofre, e assim se despe, aprende sobre a obediência à própria alma, um princípio de saúde. Tudo quer participar de cada escolha nossa. O trabalho do ego é realizar a própria alma.

O verdadeiro poder é o contato com a própria interioridade, e sua prática é a oferta deste tesouro de si, primeiramente a quem se encontra mais próximo e, seguindo um caminho natural, ao mais distante e diferente. E quando a alma é grande e o ego pequeno, reverência ao invés de dominação, reconhecemos o templo em casa. Lá estão meu pai e o seu, minha mãe e a sua e Francisco.

Só poderemos viver todos juntos em paz quando morarmos equilibradamente em nós mesmos.

Religiosidade? Ou terapia… Conhecimento de si e libertação do outro!”

Mauro Bühler

Existe dentro de nós um lugar silencioso, capaz de acolher a tudo o que somos.

Existe dentro de nós um lugar silencioso, capaz de acolher a tudo o que somos.

A realização deste lugar silencioso é o trabalho de integração que reconhecemos como espírito. O caminho para o espírito começa através da recuperação daquilo que negamos em nós e por isso muitas vezes nos parece difícil ou desafiante.

Brincamos de Deus e não o reverenciamos quando não reconhecemos a profunda beleza de todos os aspectos de nossa humanidade. Tudo o que nos compõe colabora para a vida. A sabedoria está em permitir que os componentes de nossa humanidade, de seu fundamento instintivo animal, a nossa capacidade simbólica, se expressem a serviço da vida.

Toda pessoa que aceita sua natureza serve à humanidade. Assim renasce uma pessoa movida pelo espírito.

O caminho do pólen – Uma forma bela de se viver…

Somos, como todas as coisas, parte da natureza e também estamos ao seu serviço. Podemos elevá-la a uma dimensão simbólica, metafórica, própria do espírito humano, criando e vivendo eticamente. Ou denegri-la, empobrecendo-a de sua abundância. As forças da natureza despertam e se interessam pelo homem que vive belamente, querem participar de sua vida.

Somos responsáveis pela vida por um tempo, depois a devolvemos. Quem nos tornamos neste tempo?

O caminho do pólen é um chamado para o reconhecimento do espírito em todas as coisas, numa forma bela de se viver.

A contemplação surge a partir do amadurecimento do medo, num despertar da consciência conciliada com o tempo presente, com os afetos e com a própria alma.

Não se pode mover uma palha sem perturbar uma estrela.

Não se pode mover uma palha sem perturbar uma estrela.

Esta é uma antiga perspectiva da realidade. Tudo está em contato e disponível a uma relação de intimidade para uma consciência desperta.

Essa é a mente intuitiva, orgânica, presente no silêncio de nosso corpo. Você a percebe quando se desocupa da constante luta que estranhamente consome e regula a maior parte de nossas relações.

O eu profundo tem uma natureza amorosa. Essencialmente, o amor é uma força que reúne.

A consciência compõe, a todo instante, permissões e lugares legítimos para este desejo natural de contato e união. Exemplos: eu, mãe, pai, vida, mundo, espírito, universo, Deus…..

Dê boas vindas às suas emoções

As emoções abrem um maior contato com a interioridade, esteja atento para não se perder nas abstrações do seu intelecto.

Por vezes sentimos a presença de uma determinada emoção, mas escolhemos não representá-la com a face que brota dela para nos adequarmos à expectativa do outro.

Quando você faz isso, se dissocia das emoções, diminui o contato com a sua alma e trai o movimento do espírito. Seguindo esse caminho, pode criar uma vida que não necessariamente representa a sua alma. Todos nós fazemos isso por medo. Nós exercemos um controle através do intelecto por medo de nos entregar às nossas emoções, pois sim, existem dor e sofrimento na vida humana.

Cada dimensão de nosso ser nos propõe uma experiência temporal. Os tempos do corpo, da mente e do intelecto são distintos. Uma boa consciência é o resultado de uma relação harmônica destas temporalidades, uma expressão autêntica de sua relação.

As emoções são nossas guias e professoras, a elas nos entregamos com respeito, pois todas servem à vida. Atento e honesto com as próprias emoções, seu intelecto é chamado a participar através da composição de representações e da realização de escolhas conscientes.

Mauro Bühler

A importância da atenção ao corpo

No Método Aletheia encontramos no silêncio um regulador na relação com o corpo, com as emoções e com o intelecto. Este alinhamento consolida uma consciência orgânica que naturalmente trabalha instaurando equilíbrio e harmonia em nossa interioridade e na relação com o mundo.

O silêncio nos integra, alimenta e intensifica o contato com nosso espaço interno, nos distinguindo de referências externas e nos guiando a um estado confiante de desenvolvimento das capacidades e da legitimação na própria interioridade desperta. O silêncio é um regulador original da alma, agindo como suporte a todas as qualidades humanas.

A liberdade de se transformar surge quando você acessa a vastidão de sua própria humanidade e estabelece novas possibilidades de relação. Você nasceu para se realizar através da criação de uma vida que represente a sua alma. Quando o ego se cristaliza, através da desonestidade e de defesas, ele se afasta da relação com o espírito, com o tempo e cria falsas imagens que não representam a própria interioridade, e assim se empobrece. O silêncio confere ao indivíduo uma mobilidade interna, um espaço respeitoso para o conhecimento de si.

Consideramos fundamental no processo de desenvolvimento de consciência um esforço no sentido de direcionar a atenção ao próprio corpo. Quanto mais atenção e presença, maior será o convite para o movimento integrativo das tensões presentes na alma.

O corpo é sagrado, constituindo um verdadeiro veículo de desenvolvimento da consciência. A gente encarna para trazer espírito para o corpo, não para fora dele, esse é o movimento natural. Uma boa consciência deve estar conciliada com a natureza, que trabalha compondo um estado de mútuo respeito entre todas as relações que a compõe.

Proposta de prática

Reconheça o seu corpo como uma casa, uma morada do Grande Espírito. Perceba se você o está tratando com o devido respeito. Toda energia é emprestada, confiada a nós em vida e depois por nós devolvida.

Somos responsáveis pelo que nos é tão belamente confiado. É parte do compromisso que assumimos na Prática Aletheia o desenvolvimento da consciência no sentido de elevar a condição humana no contato com o espírito através de uma ética de reciprocidade. Reverencie seu corpo e o reconheça como parte da terra, como um presente da natureza que dá suporte ao seu desenvolvimento.

Perceba se é possível relaxar mais um pouquinho em seu próprio corpo. A percepção dos movimentos sutis só se dá através de um estado desperto, porém profundamente relaxado. O relaxamento surge através da não oposição ao que está acontecendo com você neste exato momento, na conciliação com esse tempo e com esse lugar.

Grande abraço,
Mauro Bühler

Participa da noção de paraíso

“Participa da noção de paraíso a poderosa memória de um estado de ser onde era ausente, ou muito pequeno, o desafio que representa para nós o exercício relacional com a diferença. Chamamos esta fase de infância.

Muitos o buscam, ou o perpetuam por meio de artifícios. Ausências pela inconsequência, euforias e anestesias frente ao grande desafio que é viver no mundo e ser, da melhor forma possível, um entre outros. Sartre bem disse: “o inferno são os outros”. Os que buscam no paraíso alguma imagem de perfeição terminam por destituir a terra de sua diversidade original, aniquilam a todos e a si próprios na brincadeira de Deus que não parte de uma tela em branco.

Vejo na imagem do paraíso a grandiosidade do exercício de nossa inocência, dando significado a nossa concordância com o corpo e um sentido revolucionário em termos de consciência para a própria condição humana. Esta que nos dá suporte e se disponibiliza à nossa destinação, sendo assumida em nosso processo de diferenciação como o lugar legítimo para a nossa criação.”

Mauro Bühler

Quando duas pessoas se disponibilizam em suas fragilidades…

Quando duas pessoas se disponibilizam em suas fragilidades, surge a grande oportunidade do crescimento da intimidade e do amor na relação. As fragilidades são as sementes da confiança.

A confiança não pode em realidade preexistir, ela se desenvolve na reciprocidade da relação. A honestidade é o grande guia para o amadurecimento do medo nas relações.

Quando uma pessoa demonstra sua fragilidade numa relação e a outra se aproveita para empoderar uma forma de controle e domínio sobre ela, a intimidade se recolhe da relação. É comum a estratégia de construir estados arrogantes de força, julgamento e imposição para camuflar os próprios medos e fragilidades.

Para mim, a fragilidade tem a força de toda semente, pode germinar, crescer em árvore e frutificar. A arrogância tem o poder do machado que consome florestas, representa a incapacidade de cultivar, participar do crescimento. O frágil e o fraco se distinguem no investimento de vida que representa o amor com honestidade. Um cresce e o outro se disfarça.

Destruir ou denegrir é tão mais fácil que construir…

Nos encontramos intimamente engajados na organização de nosso entorno…

Nos encontramos intimamente engajados na organização de nosso entorno. Esta é uma repercussão natural do acontecimento da vida, que nos reúne por meio de uma grande rede psíquica. Esta organização pode se tornar uma realidade consciente, pelo esforço do aprimoramento da atenção e do cuidado na consideração a si e no respeito ao outro, ou permanecer como parte de uma relação inconsciente, que nos mobiliza naquilo que nos diz respeito em nossa passividade, e por conta disto, sem mérito.
Nossa individualidade tão valorizada e defendida sucumbe em termos de saúde e sanidade quando é incapaz de portar uma realidade de valores vividos. A inflação do eu leva ao delírio do desejo e das escolhas inconsequentes.

Na medida em que a passividade predomina, nos refugiamos em uma subjetividade de imagens e pensamentos que pouco nos renovam.

Assim, regredimos para a expressão de contornos emocionais mais imediatos, pouco ousados, mais vinculados a um senso de sobrevivência afetiva. Fundamentalmente, mais medrosos e infantis. Entramos sem perceber no ritmo acelerado da ambição eufórica que nos vampiriza. Esta cultura de consciência da liberdade enquanto capacidade de trocar, de sair e de descartar a qualquer momento.

Nos encontramos ocupados em nosso esquecimento com distrações que anestesiam a percepção do tempo que passa, instituindo um conforto afetivamente inerte.

E, enquanto tudo está bem, o corpo é matéria a ser modelada pela personalidade sedutora, o outro é um objeto de desejo que pode ser descartado sem grandes consequências, pois na estética jovem há uma eterna abundância. Afinal, somos hiperbóreos. A morte está distante, é uma forma de pessimismo para a pessoa saudável. Dificuldade é chatice, excelência é coisa de velho. A dor sempre pode ser remediada e a condição humana, por sua vez, é só uma ideia mirabolante demais para ser assimilada, reconhecida e tornada um exercício consciente.

O forte papel que a euforia, as distrações e seus parceiros químicos…

O forte papel que a euforia, as distrações e seus parceiros químicos cumprem no sentido de nos auxiliar a suportar a realidade emocional revela a grande fragilidade de nosso modelo de consciência.

A individualidade, tão celebrada pela sociedade contemporânea, declara um sentido de liberdade, porém muitas vezes, pouco nos importamos com o que isto realmente significa.