Encontro muitas pessoas se violentando, exercendo sobre si mesmas uma terrível forma de repressão. Impondo sobre as próprias emoções e o corpo a ditadura de suas autoimagens. Movidas por carências profundas, projetam e mobilizam o mundo no pedido de alimento afetivo que se sacia realmente na relação amorosa consigo.
Perambulam pelas relações, na ilusão de que o poder de trocar, frente à dificuldade e à dor, uma coisa por outra, uma pessoa por outra, um trabalho por outro, uma religião por outra, significa ser livre.
Dedicam-se, muitas vezes, ao corpo enquanto mecanismo de sedução do outro e também o reduzem a mero objeto de desejo. Imersos em um cardápio tão vasto quanto este do mundo que nos encontramos, podem consumir muito tempo na experiência superficial do desejo que dá prazer, mas não gera satisfação.
Esta repressão da realidade íntima é parte de nosso esquecimento de si, onde normalizamos uma absurda violência, que com o tempo nos leva a estados insustentáveis.
Nossa cultura de consciência rejeita o valor da vulnerabilidade, a reconhece como fraqueza. Esta é um estado de transição natural da abertura, propício à mudança.
Em um mundo tão violento, o aberto se machuca bastante, tem poucas chances, e isto institui um ciclo vicioso que nos aliena.
Uma estética de impressões breves e imediatas, que rege a venda, impede o necessário investimento afetivo que consolida nosso senso de individualidade e casa, saudáveis e sãos.